Nós, mortais, cismamos em estabelecer hierarquias no Futebol. Temos uma sede tenebrosa de alinhar nossas taças e medalhas pelo chão e estabelecer um vencedor. E assim, sem conhecer a piedade, elegemos também inúmeros perdedores.
Nesse injusto e artificial rol do prestígio, Vélez Sarsfield e Ponte Preta ocupam posições distintas: a camisa argentina, que já vestiu Chilavert e Simeone, beira o topo, enquanto o inconfundível colete tarjado repousa longe dali, no limbo dessa régua teimosa.
Na aristocracia dos críticos da bola, meus amigos, o Vélez é rei enquanto a Ponte não passa pelo cordão dos vassalos.
Mas o Futebol, esse intrépido casmurro, dá de ombros para essas hierarquias forjadas que nosso preconceito vive de escrever. E quando negros e brancos, ricos e pobres, fortes e fracos pisam na grama, são achatados a uma inexorável igualdade – todos são submissos aos caprichos da bola.
E foi esse mandamento do esporte bretão que permitiu que a benevolência do Futebol sorrisse para a Ponte Preta hoje, no jogo de volta das quartas-de-final da Sula, na Argentina.
O onze campineiro, por viver a tormenta da zona do rebaixamento no Brasileirão, viajou sob os holofotes da desconfiança para medir forças com o Vélez. Mas eis que essa mesma dúvida, esse jocoso sorrir irônico do adversário, dos brasileiros até, serviu como afrodisíaco infalível para os pontepretanos.
E Elias, o camisa 10, começou a rasgar o código da boa conduta dos visitantes logo no começo do segundo tempo, calando a pequena fortaleza azul com um gol sagaz, desses que povoam os manuais de contra-ataques.
Os minutos que se seguiram, com os hermanos investindo pesado para virar a partida, resultaram num combinado de sobressaltos e taquicardias que tomaram de assalto Campinas inteira.
E aos 40 e tantos minutos, quando o árbitro já fitava mais o crônometro do que o próprio embate, Fernando Bob fez surgir o golpe de misericórdia, que tiraria a aflição dos moribundos argentinos e faria eclodir no interior paulista uma festa sem precedentes, desvairada com toda a justificativa. Foi um gol de Canal 100, meus amigos. Um retumbante chapéu no goleiro. Um tento daqueles que teimamos em guardar para sempre, que insistimos em mostrar todos os dias para os nossos filhos a fim de justificar uma passagem honrosa pela vida.
Mas o gol não foi apenas bonito – foi, antes de tudo, envolto em alegoria. Porque quando Sebastián Sosa, o arqueiro argentino, tocou a bola com a cabeça no meio da sua trajetória ascendente, ele impediu o tento de ser plasticamente perfeito. Mas, sem querer, fez do gol algo transcendente, maior que a beleza em seu estado mais bruto. Ali, o ardil chapéu de Fernando Bob derrubou vertiginosamente a coroa que ocupava a cabeça do goleiro.
Com um golpe de chuteiras, um herói brasileiro pôs no chão a aviltante majestade que rege a petulância argentina.
Sr. Cronista… apesar de não entender o fascinante futebol… gosto de ler sua coluna pela mágica dança que faz com as palavras… fazendo delas mesmas protagonistas de um espetáculo em campo.
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Fico feliz com a sua leitura. Obrigadaço pelo prestígio.
Um abraço,
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Que texto maravilhoso, uma poesia que guardarei no meu pc para ler e reler para relembrar este momento ímpar na história deste sofrido clube de uma sofrida torcida que é forte justamente pela cumplicidade na adversidade. Saudações pontepretanas.
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Obrigado, Marcos. Poesia mesmo foi o futebol da Ponte Preta de ontem. Emblemático.
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TEXTO ANIMAL!!!!
PARABÉNS!
NAÇÃO PONTEPRETANA EM FESTA!
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Valeu, Carlos. Muito me alegra a sua leitura.
Volte sempre.
Forte abraço,
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belas palavras !!
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Belo mesmo foi o jogo, João.
Abraço,
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O texto traduz perfeitamente o prazer de ser torcedor de um time de tradição, fruto de uma herança de pai para filho, que no meu caso vem do meu avô que foi um dos primeiros jogadores da Macaca, que no começo do seculo XX surgiu da inciativa de alunos do Colegio Culto à Ciencia em Campinas que ao retornarem de ferias da Inglaterra trouxeram bolas de futebol e começaram a praticar o futebol ao lado de uma ponte pintada de preto sobre a linha ferrea que cortava Campinas. Nós os Pontepretanos não gostamos tsnto assim de futebol a gente gosta mesmo é da Ponte Preta. Obrigado pelo reconhecimento dessa paixão chamada Ponte Preta um sensibilidade incomun entre os que se julgam entendidos de futebol. Parabéns pelo editorial.
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Fernando, só tenho a agradecer pelo que você compartilhou, meu caro. A história da Ponte é mesmo das mais belas do nosso país. Merecia uma literatura só pra ela, sem espaço para mais nada que não seja negro e branco.
O fato de o time jamais ter alcançado um grande feito faz dos torcedores figuras ainda mais elevadas, mais nobres até do que aqueles que vivem de títulos. Torcer sem esperar a recompensa é o mais nobre ato do futebol.
Parabéns à essa torcida magnânima, que calou ontem um dos mais tradicionais times argentinos.
Hoje, o Brasil inteiro, cá com este velho, amanheceu um pouco mais pontepretano.
Forte abraço,
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Meu caro Velhocronista, esse jogo foi sem duvida magico que nos faz voltar no tempo e enaltecer os que aqui não estão mais para vivenciar esse momento historio de muita alegria, para que viu o Moises Lucarelli chorar o gol de Samarone como se fosse o de Gigio no Maracanã em 50, que viveu o gol de Basilio em 77 e agora recebe de troca dois gols de espantar esses dois fantasmas que convive com os Pontepretanos a décadas.
Quem sabe esses sejam só o começo de uma série que esta reservada para que possamos comemorar em nome daqueles que pavimentaram a estrada da tradicional Associação Atlética Ponte Preta, entre eles o meu avô Euclides Alves, meu pai Archimedes Alves e muitos outros como Sergio Salvucci, Renato Silva, Bruninho um monstro com a camisa da Macaca, Cel Petená, Donana, enfim um time de celebridades avinagras.
Oxalá sejam os escolhidos para celebrar aqui na terra o dia da vitória maior da nossa querida Macaca e se não formos tudo bem pois já é muito bom sermos da Nação Pontepretana.
Abraços
Fernando Braga
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Só quem é Pontepretano sabe a emoção que sentiu na noite de ontem.
Obrigado pelo texto maravilhoso.
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E mesmo quem não é, Viviane, descobriu a pontinha do que é ser pontepretano.
Parabéns a esse escrete feito de homens de verdade, com brio e honradez.
Um grande abraço,
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Senhor Velho e Sábio Cronista!! Meus sinceros e emblemáticos parabéns pelo texto. Gosto de ler pessoas como você, que colocam a alma na ponta do lápis. E quanto à Nega Véia regateira… aaaahhhh minha Neguinha!!! Sem palavras pra essa Linda Maravilhosa Cheirosa Macaca Preta do meu coração!!!
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Obrigado pelo carinho, meu amigo. A Ponte Preta é digna de todo esse louvor.
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Sábias palavras…
Ser Ponte Pretano…
O ponte pretano é diferente de qualquer outro torcedor.
É diferente, pois não se restringe apenas em ser TORCEDOR!
Ser ponte pretano é como casamento. Na saúde e na doença, nas alegrias e nas tristezas. Mesmo quando a doença não parece ir, e as tristezas teimam em permanecer ! O ponte pretano é capaz depois de uma derrota humilhante pegar a camisa do armário e sair as ruas, mesmo sendo alvo de piadas.
Isso porque o ponte pretano não torce por um TIME ! Torce por uma Nação e tal qual em uma guerra, um cidadão não renega um país! Mesmo que a derrota seja grande, o ponte pretano apoia seu time na derrota, pois os obstáculos engrandecem seu sentimento de nacionalismo!
E que me perdoem aqueles que têm APENAS títulos. Claro que são importantes, mas o ponte pretano tem algo que os outros NUNCA terão:
Tem PAIXÃO !!! Têm Associação Atlética PONTE PRETA !!!
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Compartilho do mesmo sentimento, Flávio. Torcer verdadeiramente é mesmo apoiar sob qualquer circunstância, é ignorar títulos e taças pra viver unicamente do amor à camisa.
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Já tive a oportunidade de, com minha esposa e minha filha, ver a explosão de alegria de vários torcedores no majestoso, ver o acesso a série A do brasileiro.
Muitas pessoas da crônica esportiva questionavam a relevância deste acontecimento, pois para alguns é algo básico estar na primeira divisão nacional.
Entretanto, para uma torcida sofrida, que já construiu o estádio com as suas próprias mãos, só o fato de ver a Ponte em campo é uma emoção incomparável.
Agora, na primeira participação em um campeonato internacional, eis que a torcida novamente abraça este clube, faz uma linda festa no primeiro jogo e cada jogador entende o recado, não esperamos lances plasticamente bonitos, apenas que joguem com determinação e raça.
Poucos acreditavam ser possível, mas garanto que cada Pontepretano já esperava este desfecho, a Ponte Preta sempre foi o time do improvável, do incomum. E que novamente os demais diminuam a sua importância, coloquem o são paulo como favorito, isto tornará a vitória bem mais festejada. Ontem foi uma noite memorável e com muita humildade continuamos avançando, não faltará apoio nas arquibancadas e esperamos um presente especial neste final de ano.
Bela coluna, não conhecia o seu trabalho, mas com certeza irei acompanhá-lo a partir de agora, são poucos que valorizam a tradição do futebol e não seu aspecto comercial.
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Rodrigo, o momento da Ponte é único. É o agridoce sentimento do tumulto que conhece a bonança. Num certame, flerta o rebaixamento; no outro, experimento êxtase duma semifinal impensada. Pena para nós, torcedores, o Futebol ser tão irônico.
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Ponte Pretanos não vivem de títulos, e sim de amor, paixão…Texto maravilhoso, você brinca com as palavras ! Tenho 14 anos sou Ponte Pretano desde quando nasci, cresci ouvindo ”torce pra um time que tem titulo a ponte é time pequeno” mas não eu quis seguir meu pai ele me ensinou a ser Ponte Pretano, agradeço muito a ele.. Macaca Querida s2
abraço
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Você tem ainda 14 anos, caro Pedro, mas já tem uma noção de impressionante profundidade sobre o futebol. De fato, torcer por títulos é fácil, quase covarde. A fratura exposta do amor ao clube está em quem veste uma camisa sem olhar para quantas estrelas coroam o escudo que está no peito.
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Parabéns pela Poesia.
Estou aqui em Perth -WA Austrália……….E o Amor e Paixao pela Ponte Preta
sempre Gigante……..
Felicidades Sr. Velho e Verdadeiro Cronista.
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Bacana perceber como o amor pelo clube desconhece as barreiras da distância. Jamais deixe de viver a Ponte Preta por conta da distância, Eduardo. Jamais.
Grande abraço,
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Obrigado pela resposta palavras que tocam mesmo no peito… é de chorar ;D
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